Atrás do Guilhotina, no Baixo Pinheiros, um conceito trendy que mistura os códigos de bar e bistrô, sem esquizofrenia
Um bar é um estado de espírito, uma faceta boêmia da alma. E o que seria um neo-bar? Para além da junção de dois termos, em parte, o conceito vanguardista implica convívio, boa coquetelaria, cozinha sincera e preços honestos. Em parte, a abertura oficial do Carrasco o explica por si só.
Detrás das cortinas do festivo Guilhotina, o espaço não adere ao rótulo de speakeasy. Contudo, a passagem pela escada e pelo jardim de inverno dá acesso a um universo reservado, que se contrapõe à personalidade transbordante do premiado irmão mais velho e que concede privacidade a outras vivências.
A aposta na qualidade e na generosidade das receitas, seja de drinks, seja de pratinhos, destaca a autenticidade de seu estilo etílico-gastronômico. Nessa direção, o menu permite diferentes caminhos que, sem confrontos, podem se cruzar à mesa.
A ala coqueteleira é assinada por Spencer Amereno. Repetidamente eleito melhor bartender da cidade, a bagagem acumulada ao longo de 21 anos se reflete em 21 drinks — sendo 9 criações inéditas, que expõem seu respeito aos clássicos, sua criatividade e, ao mesmo tempo, inspiração pela sazonalidade de ingredientes brasileiros e pelo garimpo de acessórios e guarnições para atuais as montagens.
Sob o preço único de R$ 43, elas são ecléticas e incluem o Fix (bourbon, fruta da época, abacaxi e solução ácida), o refrescante Income (gim, vermute de jasmim, mel de agave, limão-siciliano e amargos aromáticos da casa), o irreverente Collins (Aperol, shochu, palma de coco, limão-siciliano, hortelã bicolor, vinho espumante e spray de aquavit) e o encorpado Negroni alla Fragola (gim, marsala seco, vermute tinto, Campari com morango e tintura de imbiriba).
A vocação gastronômica dos novos coquetéis, por sua vez, evidencia-se com os lúdicos Waffle Cocktail (com waffle bourbon, calda de bordo e amargos aromáticos de chocolate e laranja, guarnecido por um mini-waffle) e Buck (gim, folha de limão-kaffir, licor de cupuaçu e ginger beer com mini-rocambole de matcha e pérola comestível). E mais ainda quando se combina livremente com as criações da cozinha.
Cabe dizer: no Carrasco, a ideia é não pensar em entrada, principal e sobremesa, mas percorrer sabores líquidos e comestíveis. No caso desses, há hommus com legumes assados, toque de mel e de zaatar; patê de campagne com pão de fermentação natural e mostarda l’ancienne; atum ao missô com arroz negro; t-bone de cordeiro com vinagrete de banana da terra; couve-flor ou endívias assadas tanto para serem servidos com calma ou de uma só vez.
Aliás, é exatamente o serviço outro grande trunfo do neo-bar. Mais do que sobre o balcão, onde apenas duas pessoas se acomodam, é o atendimento no salão, às mesinhas e ao sofazão, que estabelece uma atmosfera de confiança e, a partir dela, ajuda o comensal a construir as próprias experiências.
Quanto à atmosfera, ela se complementa pelo visual bohemian noir, intimista e atemporal. Como consequência, às vezes é possível se sentir num bar saído do set de Casablanca; às vezes, na sala de um amigo. Privacidade com descontração, aconchego com sofisticação. Como com as bebidas e comidas, no Carrasco as inspirações se misturam, sem esquizofrenia. A chave é fazer uma reserva e descortiná-lo sem preconceitos.
Serviço:
Rua Costa Carvalho, 84 — Pinheiros — São Paulo/SP | horário de terça a sábado das 19h às 00h | Reservas por DM — Instagram | @ocarrascobar